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Pedagoga e editora do CECIP-www.cecip.org.br ;leitora de Borges, Cortazar, Guimarães Rosa e Joseph Campbell, viajante , atualmente coordenando o projeto Currículo Global para a Sustentabilidade .

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Instruções para Salvar o Mundo

Esse é o título no novo livro  de ficção da  espanhola Rosa Montero ( Ed. Nova Fronteira, 2008) . Bibliografia básica para  quem está engajado na  criação de  um Curriculo Global para a Sustentabilidade, como o grupo de educadores brasileiros que o CECIP -www.cecip.org.br- está liderando no Brasil, com os parceiros  Südwind na Austria, Nego-com no Benin,Arpok na  Republica Checa e  Leeds -DEC no Reino Unido fazendo o mesmo em seus países .

Rosa é uma jovem de  60   anos , editora do El País .Como  boa jornalista,  está por dentro dos grandes temas planetários   e  é capaz de traduzir saberes acadêmicos para uma linguagem acessível a todos que saibam ler.  Mas Rosa vai além : a exemplo de grandes como Thomas Mann em A Montanha Mágica, ou Aldous Huxley  em livros como O Macaco e a Essencia , ou Ian MacEwan em Solar ,  converte ciência em arte. Em  Instruções sobre Como Salvar o mundo, ela  entrelaça  as vidas de  pessoas comuns, desconhecidas - um motorista de taxi  destroçado pela morte da mulher; um médico viciado no jogo Second Life ,cuja mulher o despreza ; uma  ex cientista alcoólatra cujo apelido é Cérebro; uma jovem prostituta explorada por um cafetão truculento,  nascida em Serra Leoa, onde  já havia sofrido todas as violências imagináveis; um imigrante ilegal  marroquino , fundamentalista islâmico . O cenário é a periferia de  Madrid, muito parecida com qualquer periferia brasileira , em São Paulo, no Rio....   Costurando as vidas desses personagens , Rosa- que contou com a assessoria de cientistas na elaboração do romance- demonstra, sem falar deles,  conceitos básicos da dimensão global  que une todos os seres humanos  e os vincula aos demais seres do planeta . Fala sobre  os pequenos mundos que cada um de nós somos -  de como, ao nos salvarmos, salvamos o mundo maior , mas  só podemos fazê-lo  ajudando nosso próximo  também  a salvar-se .  Seu porta voz é  Cérebro,  a pesquisadora e  professora universitária  caída em desgraça .

Copio aqui  alguns trechos do livro,  sublinhando o que mais me emocionou,  para discutir com os colegas professores das 5 escolas brasileiras do projeto Currículo Global:

 Sobre a unidade na Diversidade , fundamento dos conceitos de  Direitos Humanos, Resolução de Conflitos   e   Sustentabilidade:
"Você sabe que tudo o que existe no universo é composto por átomos. Estão em toda parte. Estão no ar transparente, nas pedras ásperas, em nossa carne macia. E há tantos, tantíssimos átomos no universo, que sua quantidade é inimaginável .(...) Os átomos se agrupam em moléculas;dois ou mais átomos unidos de forma mais ou menos estável formam uma molécula. E, para lhe dar uma idéia, vou dizer que num centímetro cúbico de ar, que é o tamanho de um daqueles dados que os seus amigos taxistas estão jogando, há uns 45 quatrilhões de moléculas , (...) E, para completar, os átomos, além se serem muitíssimos, são praticamente eternos. (...)Os átomos passam suas longuíssimas vidas se movendo daqui para ali, fazendo e desfazendo moléculas . Sem dúvida, parte dos átomos de nosso corpo provém do coração ardente de algum sol longínquo.   Você sabe, somos poeira de estrelas. E não é só isso: estatísticamente, é mais do que provável que tenhamos milhões de átomos de qualquer personagem histórico que você possa mencionar. Bilhões de átomos de Cervantes. E de Madame Curie.   Bilhões de Platão e outros bilhões de Cleópatra. Os átomos levam algum tempo para se reciclar, ou seja. muitas décadas precisam se passar para que seus átomos consigam voltar a entrar em circulação, mas pode-se dizer que todos os seres humanos que já existiram vivem em mim, e eu viverei em todos os que vierem no futuro.E também num talo de erva queimada pelo sol ou no corpo encouraçado de um escaravelho"( pag 160)

Não é maravilhoso? Fiquei pensando no poder que os professores  que amam suas disciplinas e gostam das Ciéncias  tem de encantar as crianças e jovens com  insights como esses - e  de trazer sentido para suas vidas.

Sobre Interdependencia e o impacto do micro no macro :
"Nos últimos dois anos que passou em Los Álamos, Fieldman formulou a teoria dos vasos comunicantes, também conhecida por efeito Ló. (....) carece de suficiente rigor científico. Embora, nesse caso, depois da morte de Fieldman , tenha sido encontrado um modelo matemático com que pretendia demonstrar sua teoria.Mas o modelo estava incompleto, e, além disso, ninguém soube decifrar as notas de Aaron. Enfim, o que Fieldman queria dizer é que as ações humanas tem repercussão no mundo físico, na realidade do planeta e do resto dos seres vivos. Segundo ele, todos os nossos atos, absolutamente todos, tem consequências. Dizia que os seres vivos formam uma unidade energética, que, de alguma forma, todas as criaturas estão interconectadas, da mosca do vinagre ao papa de Roma, e que, dependendo do que fazemos, contribuiríamos para ordenar a matéria e criar harmonia ,ou para desordená-la e desencadear fragorosos processos de instabilidade e fúrias caóticas. E os atos que ordenam a matéria seriam exatamente aqueles que tendemos a considerar "bons" desde o começo dos tempos, enquanto os que a desorganizam seriam os que em geral qualificamos como "maus". (...) Se cometemos atos perversos,pervertemos o mundo. E se fazemos algo bom, contribuímos para melhorá-lo e redimí-lo, ainda que nosso ato bom seja anônimo, ainda que ninguém saiba ou venha saber um dia , ainda que executado em completa solidão e aparentemente não tenha qualquer consequência. As atitudes deixam marcas por si mesmas e cada indivíduo influi na totalidade como se nos relacionássemos através de um sistema de vasos comunicantes . Fieldman afirmava que nós  humanos sabemos , em algum lugar profundo de nossas mentes, que as coisas são assim. e que por isso tal mensagem está presente na maioria das religiões do planeta" ( op.cit, pg 198,199,200)

Então: esses 30 educadores brasileiros  que  assumiram voluntáriamente a tarefa de ajudar a construir um curriculo voltado à formação do cidadão planetário do futuro, estão  ajudando, modestamente, a redimir e a salvar o mundo. Não recebem nada por isso. Poucos sabem o que estão eles estão realizando. Mas, se somos vasos comunicantes, pense nas  repercussões , em incontáveis vidas,  de  decisões como a  do professor de Geografia Gilberto, da Escola Estadual  Julia Pantoja, que  também trabalha em outra unidade, de usar um sábado livre para levar os alunos da Vila Prudente   para a Avenida Paulista, e apresentar a eles , por exemplo, a exposição ¨ 6 bilhões de outros", que está acontecendo no MASP... Ou  da professora de Português Lenira, do Colégio Bandeirantes, de iniciar com a equipe um Intercambio Virtual de Culturas entre alunos de diferentes escolas?

domingo, 8 de maio de 2011

Maio 2011 - Pensando sobre Justiça e Esperança

Essa primeira semana de Maio me fez pensar sobre Justiça. Não a  Justiça Retribuitiva , à qual  Barack Obama se  referiu ao  anunciar ao mundo , diante da eliminação de um ser humano considerado  inimigo, que "Justiça foi feita " .   Esse tipo de justiça, que mais parece vingança,  e na qual se retribui violência com violência, só faz tornar o mundo um lugar mais inseguro ainda .  Penso na Justiça Restaurativa, que a organização à qual pertenço, o CECIP - http://www.cecip.org.br/ , está ajudando a construir nas escolas do Brasil.  Uma Justiça que se baseia na compreensão das causas dos conflitos e dos motivos pelos quais eles  se transformaram em violência. E que confia na capacidade dos seres humanos de retomarem o diálogo, por meio de acordos onde os danos causados pelas violências possam ser reparados.  Um tipo de Justiça da qual  quase não se ouve falar , mas que está aí  desde os anos noventa  do século passado, para ser usada por indivíduos, grupos e nações.

É bom pensar que, no  Curriculo Global que estamos construindo - http://www.globalcurriculum.net/ -  , o conceito de Resolução de Conflitos pode ser trabalhado em aulas de todas as disciplinas , como o fizeram os professores da EE Julia Pantoja , e , na EMEF Guilherme de Almeida , as crianças da quarta série da professora Vera. Esses estudantes  construiram um mural de colagens, onde as letras  gigantes da palavra PAZ foram preenchudas com imagens de guerras atualmente travadas.  Com essa imagem, as crianças fizeram a crítica da   defesa da  guerra como instrumento de se fazer paz ( "Se queres a paz , prepara-te para a guerra) .   Parecem concordar com a iniciativa de educadores da Comunidad Educativa , grupo virtual de lationamericanos , que vai encabeçar um movimento mundial para que Barack Obama devolva o seu injustamente recebido Prêmio Nobel da Paz.

Para quem acha ingênuo falar em Currículo Global e sonhar com uma cidadania planetária em tempos apocalípticos, fica a advertência de Paulo Freire, cujo aniversário de morte  não foi lembrado pela grande mídia : '  A inexorabilidade do futuro é a negação da História  (,,,) A  desproblematização do futuro (,,,) leva necessáriamente á morte ou à negação autoritária do sonho, da utopia , da esperança . (,,). ( Pedagogia da Autonomia, 1996, pg 71-72)

Minha mãe, Maria Ednir Leitão Nogueira,  gostava de repetir a citação  "É possível viver sem justiça, mas não sem esperança". Ela  nunca a perdeu, mesmo quando o chão lhe faltava e o céu lhe caía sobre a cabeça .  Em um de seus poemas  , Absolvição do Mundo "  fala desse  outro mundo possível que estamos, a duras penas ,gestando agora :
....
Não posso julgar-te, ó mundo.
Não, não posso.

De ti sou parte infinitesimal, intrinseca.
Depois... Há em ti os  sábios, os santos, os  artistas,
tantos !
E há sempre lágrimas sobre o mal caindo
Sempre amor dessas lágrimas provindo
- e se é rasgando almas e corações que deles tiras
os átomos de amor que á humanidade voltam-
mil vezes abençoado sejas, mundo-
pois só de coração aberto é que se pode conhecer
a força do amor, o impacto da morte,
a pureza dos santos.
Ebganei-me.
Vil não és,
mundo de penosa gestação."

domingo, 1 de maio de 2011

Educação para a cidadania global /planetária e Africanidade: a nova moda do século XXI

Artigo publicado na Revista Com-Ciência Negra. CECIP, O Estudio, Rio de Janeiro, 01/2011.

Por Madza Ednir e Dinah Frotté (1)
Colaboração:  Claudius Ceccon,  Débora Macedo e Roberto de Sá (2)
Ao entrarmos na segunda década do século XXI, em plena crise ética, econômica e ambiental, vemos por toda parte indícios do fortalecimento de valores tradicionais da Mãe África, como o respeito pela força sagrada da Vida em todas as suas manifestações e a consciência da solidariedade básica entre todos os humanos, por mais diferentes que sejam. Saiba o que é Educação Global e como um Currículo Global para a Sustentabilidade começa a ganhar forma também no Brasil.

1-    Seres Humanos: cidadãos planetários por natureza?
Há cerca de 7 milhões de anos, no vale da Grande Fenda, que atravessa a Tanzânia, o Quênia e a Etiópia, a espécie humana começou a se diferenciar  dos outros primatas. Muito tempo depois, homens e mulheres partiram da África e povoaram os outros continentes: foram os precursores da planetarização... Deixando o berço africano, alcançaram regiões que mais tarde nomeariam como Egito, Mesopotâmia, Índia, chegando à Europa, à China e de lá à Oceania e às Américas. Nesses territórios, criaram as primeiras civilizações. Mas, na longa travessia, iniciada há trezentos mil anos, a lembrança de sua origem se apagou. Esqueceram–se de que eram membros da mesma família – a humanidade. Essa memória, no entanto, permaneceu viva no inconsciente coletivo, refletindo-se em ideias, sonhos, mitos comuns. Imagens que se repetiram com regularidade, em diferentes variações, nas culturas tradicionais dos cinco continentes, que por milênios permaneceriam isolados: a árvore da vida; a água que dissolve e cria; a serpente cósmica; o touro ou o boi sagrados; o círculo como símbolo de harmonia, unidade, perfeição...
Durante séculos, civilizações humanas permaneceram ignorantes umas das outras, até que o espírito de aventura e a necessidade de conquistar novos territórios e de comerciar começaram a abrir rotas entre elas. Mapas do mundo puderam então ser desenhados e sucessivamente aperfeiçoados por gerações de cartógrafos. E, no século XV, graças à audácia  e interesses expansionistas  dos portugueses e espanhóis que se lançaram a mares “nunca dantes(por eles)  navegados”, o processo se completou. Nos mapas, as antigas Terras Incógnitas foram identificadas como as Américas.
Os continentes se interligaram, mas seus habitantes não se re-uniram. Civilizações  como as Inca, Azteca e Maia, ricas  culturas Africanas e indígenas foram  espezinhadas .  As leis do mercado predominaram sobre as do humanismo de um Montaigne (“Todos os homens são meus compatriotas”) ou de um Erasmo de Rotterdam (“Sou homem e nada do que é humano me é estranho”). A ordem comercial se agigantou até culminar no capitalismo selvagem global e excludente. Embora, ao longo dos séculos, em todas as partes tenham se erguido vozes relembrando a fraternidade entre os humanos e entre eles e os demais seres do planeta - como as de Gautama Sidarta na Índia, Jesus de Nazaré na Palestina, ou Francisco de Assis na Europa- a globalização, até hoje, vem sendo norteada pela ânsia do lucro e pelo individualismo, fazendo com que indivíduos, grupos e nações tratem-se uns aos outros como objetos e estejam em constante competição por espaços e recursos.
O mercado, triunfante em nível mundial, não fez desaparecer a pobreza e aprofundou o fosso entre ricos e pobres. Como diz Jacques ATTALI, (Uma Breve História do Futuro, E. Novo Século, 2008), nesse contexto, ”... cada um se torna o rival de todos. Conflitos locais se multiplicam, as vidas não têm mais valor (...). A democracia se torna uma ilusão quando os mais ricos concentram em suas mãos o poder de entreter, vigiar, orientar, decidir. A democracia de mercado não é senão uma gigantesca fraude moral. O chamado progresso baseado no individualismo destruiu a natureza e as bases de sobrevivência da humanidade”.
2-    Globalização e Planetarizaçâo
Não haverá, então, esperanças para a nossa espécie, e nosso destino inexorável será sucumbir à catástrofe ambiental, à guerra nuclear ou *......... mundo está sendo!. (Pedagogia da Autonomia, p. 85)
A verdade é que a ordem comercial e a globalização predatória estão em crise, o que representa uma oportunidade única de mudança. A partir de meados do século XX, no marco da Declaração Universal dos Direitos Humanos, forças novas, de coesão e solidariedade entre todos os habitantes do planeta – embora ainda  tão discretas que mal são percebidas diante da estridência  do capitalismo destruidor , da xenofobia e  do belicismo - começam a operar com intensidade crescente. À crença em um desenvolvimento sem limites, contrapõe-se a noção de sustentabilidade; a Economia Solidária surge como alternativa à Economia capitalista dominante , promovendo a cooperação entre pessoas, famílias, comunidades e países. O comércio justo começa a ser praticado a nível regional e internacional. Milhões aderem aos princípios de uma vida simples, ao consumo responsável, às formas de economia relacional onde se produzem e trocam serviços gratuitos. Multiplicam-se as cooperativas, onde, em vez de  patrões e empregados,  chefes e subordinados, há participação coletiva nas tomadas de decisão, com ganhos e perdas igualmente compartilhados. Diante da guerra sem fim entre islâmicos , cristãos,  judeus e palestinos, os primeiros adeptos do  conceito de Ecumenismo- eles existem, pasme, também  na Palestina e em Israel, nos Estados Unidos da América e nos países árabes-  propõem o apaziguamento das grandes Religiões do Livro, além de resgatar as Religiões Africanas, antes consideradas pelos europeus como meras superstições. A cultura da Paz e da transformação de conflitos expande-se e infiltra-se nos sistemas de justiça e educação, com práticas de Justiça Restaurativa substituindo procedimentos punitivos, baseados na retribuição do dano causado. A Internet, que em menos de quatro décadas de existência conectou pessoas e cidades de ponta a ponta do planeta,  proporciona  formas de mobilização política e cooperação intelectual nunca dantes imaginadas.
Considerar essas novas – e ainda incipientes- dinâmicas, é admitir a possibilidade de um cenário alternativo ao de uma humanidade que se autodestrói pelo consumismo, intolerância à diversidade e belicismo.
Pessoas de todas as condições, nacionalidades e culturas acreditam, como ATTALI, que “nosso mundo pode tornar-se uma democracia planetária tolerante, pacífica, diversa, porém reunida, onde cidadãos planetários serão hospitaleiros e respeitosos do mundo, altruístas, longe do egoísmo e do desejo de destruir, percebendo que não são proprietários da Terra, mas só tem o seu usufruto. Eles  terão a fraternidade como ambição, e encontrarão a felicidade no prazer de dar prazer, em particular às crianças pelas quais são responsáveis”. Organizações como Cruz Vermelha, Greenpeace, Médicos Sem Fronteiras, World Wild Fund, Creative Commons e tantas outras, além de embriões de instituições de governo planetário como ONU e Unesco, já se pautam por essa ética.
3-    Africanidade e valores planetários
As imagens da África que dominam na mídia  nos  mostram  um continente devastado por conflitos, doenças, pobreza extrema . Grande parte desses problemas da desgraça da colonização, negadora de direitos e humanidade. Além disso , vitoriosos os movimentos de  libertação,  a corrupção,  em governos das mais diversas regiões do planeta- instalou-se  também  na maioria dos países na África.  No entanto, a Mãe África de Leopold Segnhor, Jomo Keniatta, Mandela e tantos outros  é  maior que todos os seus problemas  e  há valores básicos que sustentam milhares de micro-iniciativas africanas bem sucedidas ( e muito pouco divulgadas) no sentido de enfrentá-los de forma autônoma  e responsável.
No ano de 2011, instituído pela ONU como o Ano Internacional do Afrodescendente, é bom lembrar que as forças altruístas e universalistas, atuantes a nível local e global, são também tributárias de valores e princípios tradicionais africanos. Nesse sentido, representam um início de retorno às origens- uma reconciliação da humanidade consigo mesma.
Autores como Kabenguele MUNANGA (Origens Africanas do Brasil Contemporâneo, E. Global, 2009) e Azoilda Loretto TRINDADE, (Ensino Fundamental: um novo olhar sobre o pluralismo cultural, SME-SP, 2008, acreditam que, a diversidade africana – 56 países, cerca de duas mil línguas –convive com aspectos comuns que subjazem à multiplicidade de culturas. Essa comunidade de valores, percepções e práticas – a Africanidade – pode ser observada nos mais diversos pontos das regiões abaixo do Saara. São princípios que se assemelham de forma impressionante, àqueles acima descritos, anunciadores da cidadania planetária do futuro:

  •  Axé, Energia Vital: É generalizada a crença na Força Vital que irriga o universo: “tudo o que existe e é vivo possui axé, energia vital- planta, água, pedra, gente, ar, bicho, tempo, tudo é sagrado e está em interação” (TRINDADE). Essa crença fortalece o respeito ao outro e à vida, inclusive a do planeta.
  • Circularidade - a roda como porta para o fortalecimento da coletividade. No passado, a democracia africana baseava-se na construção do consenso: a tomada de decisão acontecia por meio de longas horas de discussão em círculo sob uma árvore, até se conseguir unanimidade.
  • Ludicidade - alegria, gosto pelo riso, celebração da vida por meio da música e da dança, com ausência da noção de culpabilidade ou de pecado original.
  • Cooperatividade - cultura do plural, do coletivo, da cooperação, com forte consciência da primazia do coletivo sobre o indivíduo.

Esse último princípio encontra sua tradução mais perfeita no conceito tradicional de Ubuntu, palavra de origem banto que tem sido traduzida como “Eu sou o que sou por aquilo que todos somos” (Lia DISKIN), ou como a crença no compartilhamento que conecta toda a humanidade. Essa crença está no fundamento do provérbio africano “É preciso uma aldeia para se educar uma criança”, sempre citado quando se fala nas Cidades Educadoras, onde todas as agencias sociais, e não apenas as escolas, tem consciencia de sua responsabilidade na formação das novas gerações.

4-    Uma Educação para a Cidadania Planetária
O ano de 1992, quando se realizou a Conferencia Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio 92 – a Cúpula da Terra – marcou o surgimento de iniciativas para sintonizar a Educação à exigência de se fortalecer, nas crianças e jovens de todas as nações, a consciência de que somos Ubuntu, compartilhamos a mesma humanidade. Nessa ocasião, foi aprovada, por representantes do mundo inteiro - mais de mil e trezentas ONG - a Carta da Terra. Nesse documento, os signatários se comprometem a “construir sociedades democráticas, justas, participativas e sustentáveis e democráticas, adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem estar comunitário, erradicar a pobreza como imperativo ético, social e ambiental, promover uma cultura de tolerância e não violência”, além de “integrar na educação formal e no aprendizado ao longo da vida inteira, os valores e as habilidades necessárias para se ter uma forma de vida sustentável. (Moacir GADOTTI, A Carta da Terra na Educação, Es,L, 2010)
A partir daí o Instituto Latino Americano de Pedagogia da Comunicação, da Costa Rica, lança os conceitos de Ecopedagogia e Cidadania Planetária, sistematizados por Francisco Gutierrez e Cruz Prado.
No Brasil, o Instituto Paulo Freire, por meio de Angela ANTUNES e Moacir GADOTTI, passa a disseminar e desenvolver esses conceitos, influenciando a prática de escolas públicas em municípios como S. Paulo e Osasco, dentre outros. Para GATDOTTI e ANTUNES, “A noção de uma cidadania planetária sustenta-se em uma visão unificadora do Planeta e de uma sociedade mundial. Ela se manifesta em expressões como Nossa Humanidade Comum, Nosso Futuro Comum, Nossa Pátria Comum. Tem a ver com a consciência de que somos habitantes de uma única morada, de uma única nação. Temos uma identidade Terrena, somos terráqueos”.
Enquanto isso, na Europa, a Educação para Cidadania Planetária do Hemisfério Sul é denominada Educação Global. A Declaração de Maastrich (2002) define Educação Global como “a educação que abre os olhos e as mentes das pessoas para a s realidades do mundo globalizado e as desperta para construir um mundo de maior justiça, equidade e direitos humanos para todos. Falar de Educação para a Sustentabilidade, Educação para a Paz e Transformação dos Conflitos, de Educação Intercultural, é falar de Educação Global. Educação Global é a dimensão global da Educação para a Cidadania”.
A Educação Global já se tornou uma política pública da União Europeia, incentivada por meio dos Centros de Educação Global, que apoiam escolas e agencias educativas não formais, na implementação de processos de aprendizagem transformadora, estimulando o trânsito de uma cultura do individualismo, associada com a dominação, para a uma cultura da parceria baseada no diálogo e na cooperação entre indivíduos, povos, culturas. Pretende-se renovar os currículos escolares, desenvolvendo nos aprendizes competências para criar novas formas de pensar e de agir em uma sociedade globalmente interconectada, rumo a um futuro sustentável.
Para incentivar mudanças no nível local que influenciem o global, as escolas são convidadas a utilizar métodos participativos, integrando movimentos sociais e processos de aprendizagem não formal  a processos educativos formais. A metodologia da Educação Global na Europa tem muitos pontos de contato com a abordagem freireana de leitura do mundo. Parte-se de um problema do momento presente e retorna-se ao passado para analisar a sua história, a sua gênese-e, então, levantam-se alternativas de ação que podem moldar o futuro. Os educadores ajudam os estudantes a fazerem a ponte entre o problemas em um micro contexto e a dimensão global, indo da realidade mais próxima - a família, a vizinhança, a escola, a cidade- para a realidade intermediária I a região, o estado. E daí, para a realidade mais ampla (o planeta). Investigam-se as relações entre o micro e o macro, compartilham-se ideias sobre possíveis soluções e parte-se para a ação.
 A Educação Global para a Sustentabilidade propicia, assim,  a aprendizagem de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes.
Conhecimentos: conceitos e conteúdos da programação normal, enriquecidos por informações sobre processo de globalização, desenvolvimento da sociedade planetária, princípios e acordos globais, pontos comuns e diferenças entre culturas e conceitos que expressam a dimensão global/planetária como os de Justiça social, Cultura de Paz, Economia Solidária, Comércio Justo, Cidadania, Diversidade e outros.
 Habilidades: Pensamento crítico, perspectiva múltipla (saber olhar a mesma situação sobre diferentes pontos de vista); reconhecimento de estereótipos e preconceitos; empatia para com os que pertencem a diferentes grupos, culturas e nações; diálogo, assertividade (afirmar-se sem ser agressivo), compreensão da complexidade, das contradições e da incerteza; manejo e transformação de conflitos.
Valores e atitudes: autoestima, autoconfiança, autorrespeito e respeito pelos outros; Responsabilidade social; Responsabilidade ambiental; Mente aberta; Atitude Visionária; Pertencimento comunitário participativo e proativo.
5-    Um Currículo Global para a Sustentabilidade, a Democracia e a Diversidade
Em plena Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), quase na reta final do período de acompanhamento e cobrança pela realização dos ODMs (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) que se encerra em 2015, educadores brasileiros e de mais quatro países, em 40 escolas,   mostrarão como um currículo significativo pode contribuir para que os estudantes e comunidade desenvolvam atitudes e práticas cidadãs, ecorresponsáveis, com impacto na melhoria da qualidade de vida, na comunidade, na cidade, numa perspectiva planetária. Trata-se do Projeto Currículo Global para a Sustentabilidade, financiado pela União Europeia e desenvolvido por ONGs da Áustria (Südwind, líder internacional); do Benin (Nego-Com), do Brasil (CECIP), do Reino Unido (Leeds DEC) e da República Checa (Arpok), em cooperação com as autoridades educacionais de cada país.
Um Currículo Global deve estar afinado com os princípios e metodologias acima descritos, voltando-se à construção de uma cidadania planetária, onde os conceitos de justiça social, sustentabilidade, interdependência/solidariedade entre países dos hemisférios Norte e Sul , estão embutidos nas aulas de todas as disciplinas. Assim, o desafio dos  800 professores participantes - 100 deles no Brasil, com liderança de 25 -   consiste em  examinar as programações de suas disciplinas e identificar oportunidades para  relacionar os conteúdos já estabelecidos aos conceitos que expressam a dimensão global/planetária , produzindo Planos de aula, Sequências Didáticas e Projetos interdisciplinares , que culminem  em  ações   rumo à  justiça social , ao incentivo do  comércio justo, do consumo consciente, da tolerância e respeito às diferenças, da preservação do ambiente.  Com esses materiais, o coletivo internacional de docentes. construirá  um Modelo de Curriculo Global on line, multilíngüe,
Um Modelo para apoiar e subsidiar docentes da Austria, Benin, Brasil, Reino Unido e República Checa , que desejam ensinar  a dimensão global/planetária   . No Brasil, contribuirá para que os conceitos de Justiça Social, Direitos Humanos, Sustentabilidade, Diversidade, Cultura de Paz e Transformação de Conflitos, Cidadania Global, deixem  de ser tratados de forma periférica, em  eventos, e passem a inserir-se de forma processual no corpo da programação das diferentes disciplinas . Isso  tornará o currículo mais significativo, integrado à realidade, capaz de promover aprendizagens poderosas, com incremento da qualidade da educação.  
Outra característica inovadora do Projeto é  o diálogo horizontal entre professores de  três continentes ,ligados a escolas as mais diversas-  públicas e privadas , grandes e pequenas, laicas e religiosas-  por meio da Internet e  em   Visitas de Estudo  dos quais participam representantes das 40 escolas participantes.
A primeira Visita  ocorreu  entre 11 e 16 de Outubro de 2010 em Leeds, no Reino Unido, cidade onde os conceitos de Comercio Justo, e Convivência com a Diversidade já fazem parte do cotidiano. Cinco escolas foram visitadas , com observação de ambientes educativos e  de práticas diretamente ligadas á realização de uma cidadania planetária.
Nessa ocasião,  professores brasileiros puderam aprender e ensinar. Por exemplo, Isa Mello, da Escola Estadual Julia Pantoja, mostrou como os alunos construíram  de forma interdisciplinar, com liderança do professor Roberto , de Artes,  projetos de casas sustentáveis, e Sérgio Ferreira, da Teia/ Politeia, mostrou aos participantes como usar uma aula de Capoeira para despertar a Africanidade dos estudantes.  O representante da EMEF Guilherme de Almeida , Eduardo Villalpando, trouxe consigo um exemplo de como trabalhar Sentimentos e Afetos na construção de uma cultura de Paz e de um  projeto interdisciplinar coordenado pela professora de Português Débora Macedo , onde  se parte-se do problema do mal-uso dos espaços públicos  , para se discutir sustentabilidade e justiça social.
A segunda Visita de Estudos ocorrerá em Outubro de 2011, ao Benin, onde os participantes poderão  vivenciar os princípios da Africanidade  que impulsionam  a construção da democracia planetária que desejamos.
A colaboração entre professores do Norte e do Sul do planeta contribui  para desfazer  antigos estereótipos e preconceitos cristalizados ao longo de séculos de  colonialismo. Para os docentes e estudantes brasileiros , a presença do Benin  nesse Projeto é um presente  maravilhoso e uma grande oportunidade  de incrementar a autoestima das crianças e jovens, em especial os  afrodescendentes . Afinal , grande parte de nossos ancestrais vieram do antigo Reino do Daomé, trazendo consigo  valores , crenças e princípios das culturas Fon, Ewé, Iorubá e Fulani,  que tornaram o Brasil o país musical, dançante, criativo, espiritual, alegre e resiliente que é. 
  7- Cinco escolas brasileiras  vivenciando  a diversidade e outros  conceitos da Dimensão Global/ Planetária 

No Brasil ,o  CECIP  decidiu, por razões  financeiras e estratégicas,   oferecer o  Projeto  Currículo Global para a Sustentabilidade a  escolas  da Grande S. Paulo ,  cujos Projetos Político Pedagógicos  já contemplassem, na prática cotidiana,  a formação para a cidadania ativa e a sustentabilidade.  Para tanto, foram contatadas a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo , por meio da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas  e a Secretaria Municipal de Educação e São Paulo , por meio da Chefia de Gabinete. As autoridades educacionais  apresentaram o Projeto a  dirigentes e diretores interessados  e três  escolas públicas  foram escolhidas, por contar com o maior número de docentes  que já inseriam conceitos globais em suas aulas , dispostos atuar de forma voluntária , tendo como recompensa o prazer de criar algo novo e contribuir para a melhoria da educação  brasileira.  As escolas públicas de excelência selecionadas  e seus diretores são: EMEF Guilherme de Almeida ,( Angela Bellinatti)  ; EE Prof. Julia M Pantoja  (Monica Cavalcanti) e EE Luiza Hidaka ( Arnaldo Teixeira). A elas se juntaram duas escolas particulares  de excepcional qualidade ,com as quais o CECIP já desenvolvera parcerias : o Colégio Bandeirantes (Mauro Aguiar) e a Escola Teia/Politeia  (Georgya C. Correa, Rosa Bertholini, Carolina Sumiê).
Em torno do propósito de se construir um Modelo de Currículo Global para a Sustentabilidade  no Brasil, uniram –se mais  de 25 educadores interessantes e interessados, cada um com um talento e uma história única , uma habilidade especial, disposto a trocar e compartilhar essa riqueza , para produzir em comunhão ações transformadoras . Assim , temos especialistas em  Português- Débora M.Macedo, Laura Nogueira, Lenira A. Buscatto, Marlene P. Campos, Neuza Fabro,Rosangela Mainente;  em Inglês-  Eduardo Villalpando e Valeria Lopes;  em Artes- Cleide Lopes e Roberto de Sá; em Educação Física - Daniela C. Lastoria e  Sergio Ferreira; em História e Geografia - Denise M. Pires, Lucia Mitiko Hirata ,Sueli Nonato; em Ciencias, Ana Paula Zilla,  Cristiana Mattos Assumpção, Rogério Fagundes Filho, Rosmeire Giacomelli , em Matemática- Isa C. de Mello, Osvaldo de Souza, Paula C. Rabello ,Suzana Hosomi ; em Multi/Interdisciplinaridade-Vera Lucia Tavares , Glaucia Palmieri.
Esse grupo  encontrou-se presencialmente pela primeira vez em  Agosto de 2010 , e, desde setembro, vem se comunicando via Internet, para afinar seus instrumentos.  Um processo riquíssimo e desafiador ,  que possibilita a aprendizagem profissional cooperativa  entre docentes de diferentes idades, gêneros,  formação, religiões , personalidades, atuando   nos sistemas público e particular de ensino.
Em 2010, primeiro ano do Projeto Currículo Global para a Sustentabilidade,  dedicado à  identificação das escolas e alinhamento conceitual dos participantes, as 5 unidades  que o representam no Brasil  já conseguiram  comunicar, á maioria dos professores e estudantes , a importância de se incluir no  currículo  a dimensão   global, por meio de conceitos  como  direitos humanos, justiça social, diversidade, cultura de paz/resolução de conflitos, sustentabilidade e outros.
Os professores Daniela Lastoria de Godói  e Paula Rabello  ( Bandeirantes), Eduardo Villalpando,  ( EMEF Guilherme de Almeida) , Isa Camargo de Mello, (EE Julia M. Pantoja) , Sueli Nonato  (EE Luiza Hidaka) e Sérgio Ferreira , (Teia/Politeia  ),que representaram suas escolas em Leeds, compartilharam suas aprendizagens   e mostraram as imagens das escolas britânicas visitadas.  Contando com a  liderança dos diretores , das equipes “Currículo Global”  e dos coordenadores do Projeto em cada escola ( Cristiana Assumpção no Bandeirantes, Eduardo Villalpando e Denise Pires  na Guilherme de Almeida, Rosmeire Giacomelli na Julia Pantoja, Lucia Hirata na Luiza Hidaka e Georgya Correa na Teia/Politeia), a  devolutiva   conseguiu  beneficiar   todos os professores das escolas.
Em  várias delas ,  como no Bandeirantes , os  “Viajantes  de  Leeds” possibilitaram aos colegas  vivenciar dinâmicas experimentadas no Reino Unido  . Em uma  , a Guilherme de Almeida  , todos os alunos participaram da elaboração de pôsteres sobre conceitos implícitos na dimensão  global,  que foram expostos no pátio e visitados por toda a comunidade escolar, inclusive os pais. Os estudantes criaram ainda um vídeo onde  refletem sobre a importância de se preservar os espaços da escola, como os banheiros.  Em outra , a Julia Pantoja ,  os estudantes  foram envolvidos na criação de um "logo" da unidade para o projeto e os professores trabalharam de forma interdisciplinar ,  com uma culminância  envolvendo atividades de conscientização da comunidade , pelos alunos, sobre comportamentos sustentáveis.. A escola foi convidada a  expor no metrô trabalhos dos alunos sobre "casas sustentáveis". Em outra ainda, a  Luiza Hidaka, a Feira de Ciências foi toda voltada a ressaltar a dimensão da  Sustentabilidade. com alunos apresentando os seus trabalhos sobre o tema .  No Bandeirantes , Sustentabilidade e Cidadania  estão presentes nas aulas  das mais diferentes matérias, de Ciências e   Educação Física  a  Português, onde até  a leitura do Frankestein de Mary Shelley pode servir para discutir  conceitos  como Diversidade e  Valores/Percepções . Na Politeia, todas as crianças,independente de idade e presença de deficiências físicas ou mentais,  criaram e apresentaram juntas uma peça que incluia  muitas dos conceitos Globais - O Mágico de Oz- e  realizaram vídeo onde a questão do consumismo era criticada e   causas da situação dos  moradores de rua  eram afloradas.

Conexões internacionais começam a  acontecer , com correspondência entre  escolas brasileiras e Republica Checa ,Benin,  Reino Unido.  

4- Cooperação Brasil-África rumo á superação do preconceito e da discriminação:
No momento em que o Brasil emerge como uma das grandes potencias no cenário mundial,  é urgente que aprendamos  a valorizar as diferenças, a conviver com elas e transformar em mudanças positivas  os conflitos que elas provocam . Uma aprendizagem  que precisa ser aplicada na escola, na cidade, no país e no mundo , gerando sustentabilidade
O  Brasil  é  exemplo  de convivência com a diversidade   e de intolerância á diversidade.  E um lado, temos a Parada Gay , uma das maiores e mais bonitas do mundo. De outro, sucedem-se  abomináveis manifestações  de homofobia.   De um lado, somos capazes de um   sincretismo religioso  que  concilia o inconciliável, unindo santos da religião católica , baseada na divisão  severa entre o bem e o mal e orixás da  religião africana  onde  bem e mal são faces de uma mesma moeda  . De outro, o racismo  se manifesta na diferença de condições de vida, salários e esperança ao nascer entre cidadãos de pele branca e de pele escura , mostra que  a diferença, no Brasil, ainda inferioriza.
A visita de Estudos ao Benin  representará para os professores brasileiros, um banho de Africanidade. O  pequeno país (menor que Portugal)  é hoje  um modelo de  democracia  entre as nações africanas . Nela convivem pacificamente cristãos, islâmicos e praticantes do Vodu, que em  iorubá  significa Espírito, Deus-  religião africana , matriz do Candomblé e da Umbanda brasileiros ,   distorcida  e vilipendiada por  Hollywood.   O Benin    foi governado por poderosos soberanos autóctones, superou  galhardamente o regime colonial francês, viveu  duas décadas de um governo  autoritário  marxista  e é  herdeiro de tradições culturais, religiosas  e artísticas milenares .  Berço de escritores como  Jean Pliya, e Bhely-Quénum, o Benin, ao receber seus filhos e filhas e além mar ,  irá contribuir para fortalecer o orgulho e consciência negros  nas escolas e comunidades brasileiras .
A Visita de Estudos , da qual também participarão os docentes da Austria, Reino Unido e República Checa,  será precedida pela interação entre as  escolas brasileiras e as  beninesas , localizadas em Porto Novo e Cotonou . São  unidades de ensino  também muito diversas : Colégio Católico Notre Dame de Lourdes , fundado por missionários franceses, particular, dedicado á  formação intelectual e espiritual de seus alunos;  Colégio de Ensino Geral de Gbegamey –publico,  criado em 1964, de renome nacional , centro de exames e concursos; Complexo Escolar  Leopold Senghor  ,publico; Complexo Escolar Protestante , particular, criado pela Igreja protestante em 1951;Liceu Toffa   (publico) .só de meninas, funcionando  desde 1972 .
Ao mesmo tempo, as escolas brasileiras  entrarão em contato com   os recursos da   Casa do Benin , em Salvador .Esse equipamento público , inaugurado  em 1988,  abriga uma rica coleção de objetos e obras de arte da região do Golfo do Benin, de onde veio a maioria dos negros que povoaram o Recôncavo Baiano. A maior parte do acervo foi colecionada pelo antropólogo  fotógrafo  e cidadão planetário  Pierre Verger ,em suas andanças pelo continente africano . Uma professora   da EMEF Guilherme de Almeida  aproveitou as férias  na Bahia  para visitar a Casa e, consultar sua biblioteca especializada em África e Cultura Afro-Brasileira , recolhendo  materiais e contatos para  todos os  colegas  do Projeto Currículo Global  para a Sustentabilidade.   
Conclusão
Os educadores  envolvidos no  projeto Curriculo Global para a Sustentabilidade  no Brasil estão construindo ferramentas para que  as escolas e comunidades possibilitem às crianças e adolescentes    compreender como injustiças do passado afetam as políticas contemporâneas locais e globais,  identificar  interconexões entre as esferas sociais, econômicas e ambientais, perceber que  as pessoas, lugares, economias e ambientes estão todos intrinsecamente relacionados, e que escolhas e eventos locais  tem repercussão em escala global .  Esses educadores  convidam ,os estudantes,  por meio de suas  situações de  aprendizagem cuidadosamente planejadas ,   a desafiar o racismo e outras formas de discriminação, desigualdade e injustiça, percebendo que somos todos parte de uma só humanidade,  que  a força do Axé nos une  e  que o sofrimento  ou a felicidade de  um,  impacta  a  comunidade inteira.
Trata-se de um projeto que conta com recursos financeiros muito limitados. Os profissionais da Educação nele engajados  estão sendo movidos por valores e princípios alternativos-  altruístas , solidários  . Também  pelo prazer gratuito de cooperar  e  aprender com o outro, com o diferente. Eles remam a favor do futuro  , rumo às praias da democracia planetária que  nossos bisnetos talvez alcancem. 
Muitos parceiros já se juntaram a nós. Desde o início do processo, o CECIP vem contando com a generosa e gratuita consultoria de especialistas como Angela Antunes e Erick Morris, do Instituto Paulo Freire, Helena Singer, do Instituto Politeia, Monica Mumme ,de seus próprios quadros - além do apoio de Vilma Guimarães, da Fundação Roberto Marinho. Você também pode  remar conosco.  Afinal, cada um de nós é o que é por aquilo que todos somos :  Ubuntu. .

(1)- CECIP- Coordenadora Pedagógica e Coordenadora Administrativa  do Projeto Currículo Global para a Sustentabilidade no Brasil
(2) Diretor Executivo do CECIP; Professora de Português- EMEF Guilherme de Almeida  e Professor de Artes. EE Julia M. Pantoja , membros da equipe Brasileira do projeto Currículo Global para a Sustentabilidade.

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Costurar idéias

 Quando escrevo, costuro idéias . Idéias que foram /estão sendo pensadas por pessoas de todas as épocas, de todas as partes do planeta, inclusive por mim, que sou herdeira ou irmã dessas gentes. Com idéias alheias e  próprias , crio tecidos que podem ser úteis, que podem ser belos. Criar esses tecidos me ajuda a fazer sentido do que vejo e sinto. São redes de significados que  buscam outras redes, para capturar significados cada vez mais amplos....
Nesse blog, vou capturar, cortar e  costurar com linhas brasileiras de esperança, idéias sobre educação  para o cidadão planetário (artes, literaturas , ciências, culturas, filosofias), currículo, cidadania e transformação social rumo ao outro mundo possível - a Terra sem Males-que tantos sonham.