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Pedagoga e editora do CECIP-www.cecip.org.br ;leitora de Borges, Cortazar, Guimarães Rosa e Joseph Campbell, viajante , atualmente coordenando o projeto Currículo Global para a Sustentabilidade .

domingo, 1 de maio de 2011

Educação para a cidadania global /planetária e Africanidade: a nova moda do século XXI

Artigo publicado na Revista Com-Ciência Negra. CECIP, O Estudio, Rio de Janeiro, 01/2011.

Por Madza Ednir e Dinah Frotté (1)
Colaboração:  Claudius Ceccon,  Débora Macedo e Roberto de Sá (2)
Ao entrarmos na segunda década do século XXI, em plena crise ética, econômica e ambiental, vemos por toda parte indícios do fortalecimento de valores tradicionais da Mãe África, como o respeito pela força sagrada da Vida em todas as suas manifestações e a consciência da solidariedade básica entre todos os humanos, por mais diferentes que sejam. Saiba o que é Educação Global e como um Currículo Global para a Sustentabilidade começa a ganhar forma também no Brasil.

1-    Seres Humanos: cidadãos planetários por natureza?
Há cerca de 7 milhões de anos, no vale da Grande Fenda, que atravessa a Tanzânia, o Quênia e a Etiópia, a espécie humana começou a se diferenciar  dos outros primatas. Muito tempo depois, homens e mulheres partiram da África e povoaram os outros continentes: foram os precursores da planetarização... Deixando o berço africano, alcançaram regiões que mais tarde nomeariam como Egito, Mesopotâmia, Índia, chegando à Europa, à China e de lá à Oceania e às Américas. Nesses territórios, criaram as primeiras civilizações. Mas, na longa travessia, iniciada há trezentos mil anos, a lembrança de sua origem se apagou. Esqueceram–se de que eram membros da mesma família – a humanidade. Essa memória, no entanto, permaneceu viva no inconsciente coletivo, refletindo-se em ideias, sonhos, mitos comuns. Imagens que se repetiram com regularidade, em diferentes variações, nas culturas tradicionais dos cinco continentes, que por milênios permaneceriam isolados: a árvore da vida; a água que dissolve e cria; a serpente cósmica; o touro ou o boi sagrados; o círculo como símbolo de harmonia, unidade, perfeição...
Durante séculos, civilizações humanas permaneceram ignorantes umas das outras, até que o espírito de aventura e a necessidade de conquistar novos territórios e de comerciar começaram a abrir rotas entre elas. Mapas do mundo puderam então ser desenhados e sucessivamente aperfeiçoados por gerações de cartógrafos. E, no século XV, graças à audácia  e interesses expansionistas  dos portugueses e espanhóis que se lançaram a mares “nunca dantes(por eles)  navegados”, o processo se completou. Nos mapas, as antigas Terras Incógnitas foram identificadas como as Américas.
Os continentes se interligaram, mas seus habitantes não se re-uniram. Civilizações  como as Inca, Azteca e Maia, ricas  culturas Africanas e indígenas foram  espezinhadas .  As leis do mercado predominaram sobre as do humanismo de um Montaigne (“Todos os homens são meus compatriotas”) ou de um Erasmo de Rotterdam (“Sou homem e nada do que é humano me é estranho”). A ordem comercial se agigantou até culminar no capitalismo selvagem global e excludente. Embora, ao longo dos séculos, em todas as partes tenham se erguido vozes relembrando a fraternidade entre os humanos e entre eles e os demais seres do planeta - como as de Gautama Sidarta na Índia, Jesus de Nazaré na Palestina, ou Francisco de Assis na Europa- a globalização, até hoje, vem sendo norteada pela ânsia do lucro e pelo individualismo, fazendo com que indivíduos, grupos e nações tratem-se uns aos outros como objetos e estejam em constante competição por espaços e recursos.
O mercado, triunfante em nível mundial, não fez desaparecer a pobreza e aprofundou o fosso entre ricos e pobres. Como diz Jacques ATTALI, (Uma Breve História do Futuro, E. Novo Século, 2008), nesse contexto, ”... cada um se torna o rival de todos. Conflitos locais se multiplicam, as vidas não têm mais valor (...). A democracia se torna uma ilusão quando os mais ricos concentram em suas mãos o poder de entreter, vigiar, orientar, decidir. A democracia de mercado não é senão uma gigantesca fraude moral. O chamado progresso baseado no individualismo destruiu a natureza e as bases de sobrevivência da humanidade”.
2-    Globalização e Planetarizaçâo
Não haverá, então, esperanças para a nossa espécie, e nosso destino inexorável será sucumbir à catástrofe ambiental, à guerra nuclear ou *......... mundo está sendo!. (Pedagogia da Autonomia, p. 85)
A verdade é que a ordem comercial e a globalização predatória estão em crise, o que representa uma oportunidade única de mudança. A partir de meados do século XX, no marco da Declaração Universal dos Direitos Humanos, forças novas, de coesão e solidariedade entre todos os habitantes do planeta – embora ainda  tão discretas que mal são percebidas diante da estridência  do capitalismo destruidor , da xenofobia e  do belicismo - começam a operar com intensidade crescente. À crença em um desenvolvimento sem limites, contrapõe-se a noção de sustentabilidade; a Economia Solidária surge como alternativa à Economia capitalista dominante , promovendo a cooperação entre pessoas, famílias, comunidades e países. O comércio justo começa a ser praticado a nível regional e internacional. Milhões aderem aos princípios de uma vida simples, ao consumo responsável, às formas de economia relacional onde se produzem e trocam serviços gratuitos. Multiplicam-se as cooperativas, onde, em vez de  patrões e empregados,  chefes e subordinados, há participação coletiva nas tomadas de decisão, com ganhos e perdas igualmente compartilhados. Diante da guerra sem fim entre islâmicos , cristãos,  judeus e palestinos, os primeiros adeptos do  conceito de Ecumenismo- eles existem, pasme, também  na Palestina e em Israel, nos Estados Unidos da América e nos países árabes-  propõem o apaziguamento das grandes Religiões do Livro, além de resgatar as Religiões Africanas, antes consideradas pelos europeus como meras superstições. A cultura da Paz e da transformação de conflitos expande-se e infiltra-se nos sistemas de justiça e educação, com práticas de Justiça Restaurativa substituindo procedimentos punitivos, baseados na retribuição do dano causado. A Internet, que em menos de quatro décadas de existência conectou pessoas e cidades de ponta a ponta do planeta,  proporciona  formas de mobilização política e cooperação intelectual nunca dantes imaginadas.
Considerar essas novas – e ainda incipientes- dinâmicas, é admitir a possibilidade de um cenário alternativo ao de uma humanidade que se autodestrói pelo consumismo, intolerância à diversidade e belicismo.
Pessoas de todas as condições, nacionalidades e culturas acreditam, como ATTALI, que “nosso mundo pode tornar-se uma democracia planetária tolerante, pacífica, diversa, porém reunida, onde cidadãos planetários serão hospitaleiros e respeitosos do mundo, altruístas, longe do egoísmo e do desejo de destruir, percebendo que não são proprietários da Terra, mas só tem o seu usufruto. Eles  terão a fraternidade como ambição, e encontrarão a felicidade no prazer de dar prazer, em particular às crianças pelas quais são responsáveis”. Organizações como Cruz Vermelha, Greenpeace, Médicos Sem Fronteiras, World Wild Fund, Creative Commons e tantas outras, além de embriões de instituições de governo planetário como ONU e Unesco, já se pautam por essa ética.
3-    Africanidade e valores planetários
As imagens da África que dominam na mídia  nos  mostram  um continente devastado por conflitos, doenças, pobreza extrema . Grande parte desses problemas da desgraça da colonização, negadora de direitos e humanidade. Além disso , vitoriosos os movimentos de  libertação,  a corrupção,  em governos das mais diversas regiões do planeta- instalou-se  também  na maioria dos países na África.  No entanto, a Mãe África de Leopold Segnhor, Jomo Keniatta, Mandela e tantos outros  é  maior que todos os seus problemas  e  há valores básicos que sustentam milhares de micro-iniciativas africanas bem sucedidas ( e muito pouco divulgadas) no sentido de enfrentá-los de forma autônoma  e responsável.
No ano de 2011, instituído pela ONU como o Ano Internacional do Afrodescendente, é bom lembrar que as forças altruístas e universalistas, atuantes a nível local e global, são também tributárias de valores e princípios tradicionais africanos. Nesse sentido, representam um início de retorno às origens- uma reconciliação da humanidade consigo mesma.
Autores como Kabenguele MUNANGA (Origens Africanas do Brasil Contemporâneo, E. Global, 2009) e Azoilda Loretto TRINDADE, (Ensino Fundamental: um novo olhar sobre o pluralismo cultural, SME-SP, 2008, acreditam que, a diversidade africana – 56 países, cerca de duas mil línguas –convive com aspectos comuns que subjazem à multiplicidade de culturas. Essa comunidade de valores, percepções e práticas – a Africanidade – pode ser observada nos mais diversos pontos das regiões abaixo do Saara. São princípios que se assemelham de forma impressionante, àqueles acima descritos, anunciadores da cidadania planetária do futuro:

  •  Axé, Energia Vital: É generalizada a crença na Força Vital que irriga o universo: “tudo o que existe e é vivo possui axé, energia vital- planta, água, pedra, gente, ar, bicho, tempo, tudo é sagrado e está em interação” (TRINDADE). Essa crença fortalece o respeito ao outro e à vida, inclusive a do planeta.
  • Circularidade - a roda como porta para o fortalecimento da coletividade. No passado, a democracia africana baseava-se na construção do consenso: a tomada de decisão acontecia por meio de longas horas de discussão em círculo sob uma árvore, até se conseguir unanimidade.
  • Ludicidade - alegria, gosto pelo riso, celebração da vida por meio da música e da dança, com ausência da noção de culpabilidade ou de pecado original.
  • Cooperatividade - cultura do plural, do coletivo, da cooperação, com forte consciência da primazia do coletivo sobre o indivíduo.

Esse último princípio encontra sua tradução mais perfeita no conceito tradicional de Ubuntu, palavra de origem banto que tem sido traduzida como “Eu sou o que sou por aquilo que todos somos” (Lia DISKIN), ou como a crença no compartilhamento que conecta toda a humanidade. Essa crença está no fundamento do provérbio africano “É preciso uma aldeia para se educar uma criança”, sempre citado quando se fala nas Cidades Educadoras, onde todas as agencias sociais, e não apenas as escolas, tem consciencia de sua responsabilidade na formação das novas gerações.

4-    Uma Educação para a Cidadania Planetária
O ano de 1992, quando se realizou a Conferencia Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio 92 – a Cúpula da Terra – marcou o surgimento de iniciativas para sintonizar a Educação à exigência de se fortalecer, nas crianças e jovens de todas as nações, a consciência de que somos Ubuntu, compartilhamos a mesma humanidade. Nessa ocasião, foi aprovada, por representantes do mundo inteiro - mais de mil e trezentas ONG - a Carta da Terra. Nesse documento, os signatários se comprometem a “construir sociedades democráticas, justas, participativas e sustentáveis e democráticas, adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem estar comunitário, erradicar a pobreza como imperativo ético, social e ambiental, promover uma cultura de tolerância e não violência”, além de “integrar na educação formal e no aprendizado ao longo da vida inteira, os valores e as habilidades necessárias para se ter uma forma de vida sustentável. (Moacir GADOTTI, A Carta da Terra na Educação, Es,L, 2010)
A partir daí o Instituto Latino Americano de Pedagogia da Comunicação, da Costa Rica, lança os conceitos de Ecopedagogia e Cidadania Planetária, sistematizados por Francisco Gutierrez e Cruz Prado.
No Brasil, o Instituto Paulo Freire, por meio de Angela ANTUNES e Moacir GADOTTI, passa a disseminar e desenvolver esses conceitos, influenciando a prática de escolas públicas em municípios como S. Paulo e Osasco, dentre outros. Para GATDOTTI e ANTUNES, “A noção de uma cidadania planetária sustenta-se em uma visão unificadora do Planeta e de uma sociedade mundial. Ela se manifesta em expressões como Nossa Humanidade Comum, Nosso Futuro Comum, Nossa Pátria Comum. Tem a ver com a consciência de que somos habitantes de uma única morada, de uma única nação. Temos uma identidade Terrena, somos terráqueos”.
Enquanto isso, na Europa, a Educação para Cidadania Planetária do Hemisfério Sul é denominada Educação Global. A Declaração de Maastrich (2002) define Educação Global como “a educação que abre os olhos e as mentes das pessoas para a s realidades do mundo globalizado e as desperta para construir um mundo de maior justiça, equidade e direitos humanos para todos. Falar de Educação para a Sustentabilidade, Educação para a Paz e Transformação dos Conflitos, de Educação Intercultural, é falar de Educação Global. Educação Global é a dimensão global da Educação para a Cidadania”.
A Educação Global já se tornou uma política pública da União Europeia, incentivada por meio dos Centros de Educação Global, que apoiam escolas e agencias educativas não formais, na implementação de processos de aprendizagem transformadora, estimulando o trânsito de uma cultura do individualismo, associada com a dominação, para a uma cultura da parceria baseada no diálogo e na cooperação entre indivíduos, povos, culturas. Pretende-se renovar os currículos escolares, desenvolvendo nos aprendizes competências para criar novas formas de pensar e de agir em uma sociedade globalmente interconectada, rumo a um futuro sustentável.
Para incentivar mudanças no nível local que influenciem o global, as escolas são convidadas a utilizar métodos participativos, integrando movimentos sociais e processos de aprendizagem não formal  a processos educativos formais. A metodologia da Educação Global na Europa tem muitos pontos de contato com a abordagem freireana de leitura do mundo. Parte-se de um problema do momento presente e retorna-se ao passado para analisar a sua história, a sua gênese-e, então, levantam-se alternativas de ação que podem moldar o futuro. Os educadores ajudam os estudantes a fazerem a ponte entre o problemas em um micro contexto e a dimensão global, indo da realidade mais próxima - a família, a vizinhança, a escola, a cidade- para a realidade intermediária I a região, o estado. E daí, para a realidade mais ampla (o planeta). Investigam-se as relações entre o micro e o macro, compartilham-se ideias sobre possíveis soluções e parte-se para a ação.
 A Educação Global para a Sustentabilidade propicia, assim,  a aprendizagem de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes.
Conhecimentos: conceitos e conteúdos da programação normal, enriquecidos por informações sobre processo de globalização, desenvolvimento da sociedade planetária, princípios e acordos globais, pontos comuns e diferenças entre culturas e conceitos que expressam a dimensão global/planetária como os de Justiça social, Cultura de Paz, Economia Solidária, Comércio Justo, Cidadania, Diversidade e outros.
 Habilidades: Pensamento crítico, perspectiva múltipla (saber olhar a mesma situação sobre diferentes pontos de vista); reconhecimento de estereótipos e preconceitos; empatia para com os que pertencem a diferentes grupos, culturas e nações; diálogo, assertividade (afirmar-se sem ser agressivo), compreensão da complexidade, das contradições e da incerteza; manejo e transformação de conflitos.
Valores e atitudes: autoestima, autoconfiança, autorrespeito e respeito pelos outros; Responsabilidade social; Responsabilidade ambiental; Mente aberta; Atitude Visionária; Pertencimento comunitário participativo e proativo.
5-    Um Currículo Global para a Sustentabilidade, a Democracia e a Diversidade
Em plena Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), quase na reta final do período de acompanhamento e cobrança pela realização dos ODMs (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) que se encerra em 2015, educadores brasileiros e de mais quatro países, em 40 escolas,   mostrarão como um currículo significativo pode contribuir para que os estudantes e comunidade desenvolvam atitudes e práticas cidadãs, ecorresponsáveis, com impacto na melhoria da qualidade de vida, na comunidade, na cidade, numa perspectiva planetária. Trata-se do Projeto Currículo Global para a Sustentabilidade, financiado pela União Europeia e desenvolvido por ONGs da Áustria (Südwind, líder internacional); do Benin (Nego-Com), do Brasil (CECIP), do Reino Unido (Leeds DEC) e da República Checa (Arpok), em cooperação com as autoridades educacionais de cada país.
Um Currículo Global deve estar afinado com os princípios e metodologias acima descritos, voltando-se à construção de uma cidadania planetária, onde os conceitos de justiça social, sustentabilidade, interdependência/solidariedade entre países dos hemisférios Norte e Sul , estão embutidos nas aulas de todas as disciplinas. Assim, o desafio dos  800 professores participantes - 100 deles no Brasil, com liderança de 25 -   consiste em  examinar as programações de suas disciplinas e identificar oportunidades para  relacionar os conteúdos já estabelecidos aos conceitos que expressam a dimensão global/planetária , produzindo Planos de aula, Sequências Didáticas e Projetos interdisciplinares , que culminem  em  ações   rumo à  justiça social , ao incentivo do  comércio justo, do consumo consciente, da tolerância e respeito às diferenças, da preservação do ambiente.  Com esses materiais, o coletivo internacional de docentes. construirá  um Modelo de Curriculo Global on line, multilíngüe,
Um Modelo para apoiar e subsidiar docentes da Austria, Benin, Brasil, Reino Unido e República Checa , que desejam ensinar  a dimensão global/planetária   . No Brasil, contribuirá para que os conceitos de Justiça Social, Direitos Humanos, Sustentabilidade, Diversidade, Cultura de Paz e Transformação de Conflitos, Cidadania Global, deixem  de ser tratados de forma periférica, em  eventos, e passem a inserir-se de forma processual no corpo da programação das diferentes disciplinas . Isso  tornará o currículo mais significativo, integrado à realidade, capaz de promover aprendizagens poderosas, com incremento da qualidade da educação.  
Outra característica inovadora do Projeto é  o diálogo horizontal entre professores de  três continentes ,ligados a escolas as mais diversas-  públicas e privadas , grandes e pequenas, laicas e religiosas-  por meio da Internet e  em   Visitas de Estudo  dos quais participam representantes das 40 escolas participantes.
A primeira Visita  ocorreu  entre 11 e 16 de Outubro de 2010 em Leeds, no Reino Unido, cidade onde os conceitos de Comercio Justo, e Convivência com a Diversidade já fazem parte do cotidiano. Cinco escolas foram visitadas , com observação de ambientes educativos e  de práticas diretamente ligadas á realização de uma cidadania planetária.
Nessa ocasião,  professores brasileiros puderam aprender e ensinar. Por exemplo, Isa Mello, da Escola Estadual Julia Pantoja, mostrou como os alunos construíram  de forma interdisciplinar, com liderança do professor Roberto , de Artes,  projetos de casas sustentáveis, e Sérgio Ferreira, da Teia/ Politeia, mostrou aos participantes como usar uma aula de Capoeira para despertar a Africanidade dos estudantes.  O representante da EMEF Guilherme de Almeida , Eduardo Villalpando, trouxe consigo um exemplo de como trabalhar Sentimentos e Afetos na construção de uma cultura de Paz e de um  projeto interdisciplinar coordenado pela professora de Português Débora Macedo , onde  se parte-se do problema do mal-uso dos espaços públicos  , para se discutir sustentabilidade e justiça social.
A segunda Visita de Estudos ocorrerá em Outubro de 2011, ao Benin, onde os participantes poderão  vivenciar os princípios da Africanidade  que impulsionam  a construção da democracia planetária que desejamos.
A colaboração entre professores do Norte e do Sul do planeta contribui  para desfazer  antigos estereótipos e preconceitos cristalizados ao longo de séculos de  colonialismo. Para os docentes e estudantes brasileiros , a presença do Benin  nesse Projeto é um presente  maravilhoso e uma grande oportunidade  de incrementar a autoestima das crianças e jovens, em especial os  afrodescendentes . Afinal , grande parte de nossos ancestrais vieram do antigo Reino do Daomé, trazendo consigo  valores , crenças e princípios das culturas Fon, Ewé, Iorubá e Fulani,  que tornaram o Brasil o país musical, dançante, criativo, espiritual, alegre e resiliente que é. 
  7- Cinco escolas brasileiras  vivenciando  a diversidade e outros  conceitos da Dimensão Global/ Planetária 

No Brasil ,o  CECIP  decidiu, por razões  financeiras e estratégicas,   oferecer o  Projeto  Currículo Global para a Sustentabilidade a  escolas  da Grande S. Paulo ,  cujos Projetos Político Pedagógicos  já contemplassem, na prática cotidiana,  a formação para a cidadania ativa e a sustentabilidade.  Para tanto, foram contatadas a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo , por meio da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas  e a Secretaria Municipal de Educação e São Paulo , por meio da Chefia de Gabinete. As autoridades educacionais  apresentaram o Projeto a  dirigentes e diretores interessados  e três  escolas públicas  foram escolhidas, por contar com o maior número de docentes  que já inseriam conceitos globais em suas aulas , dispostos atuar de forma voluntária , tendo como recompensa o prazer de criar algo novo e contribuir para a melhoria da educação  brasileira.  As escolas públicas de excelência selecionadas  e seus diretores são: EMEF Guilherme de Almeida ,( Angela Bellinatti)  ; EE Prof. Julia M Pantoja  (Monica Cavalcanti) e EE Luiza Hidaka ( Arnaldo Teixeira). A elas se juntaram duas escolas particulares  de excepcional qualidade ,com as quais o CECIP já desenvolvera parcerias : o Colégio Bandeirantes (Mauro Aguiar) e a Escola Teia/Politeia  (Georgya C. Correa, Rosa Bertholini, Carolina Sumiê).
Em torno do propósito de se construir um Modelo de Currículo Global para a Sustentabilidade  no Brasil, uniram –se mais  de 25 educadores interessantes e interessados, cada um com um talento e uma história única , uma habilidade especial, disposto a trocar e compartilhar essa riqueza , para produzir em comunhão ações transformadoras . Assim , temos especialistas em  Português- Débora M.Macedo, Laura Nogueira, Lenira A. Buscatto, Marlene P. Campos, Neuza Fabro,Rosangela Mainente;  em Inglês-  Eduardo Villalpando e Valeria Lopes;  em Artes- Cleide Lopes e Roberto de Sá; em Educação Física - Daniela C. Lastoria e  Sergio Ferreira; em História e Geografia - Denise M. Pires, Lucia Mitiko Hirata ,Sueli Nonato; em Ciencias, Ana Paula Zilla,  Cristiana Mattos Assumpção, Rogério Fagundes Filho, Rosmeire Giacomelli , em Matemática- Isa C. de Mello, Osvaldo de Souza, Paula C. Rabello ,Suzana Hosomi ; em Multi/Interdisciplinaridade-Vera Lucia Tavares , Glaucia Palmieri.
Esse grupo  encontrou-se presencialmente pela primeira vez em  Agosto de 2010 , e, desde setembro, vem se comunicando via Internet, para afinar seus instrumentos.  Um processo riquíssimo e desafiador ,  que possibilita a aprendizagem profissional cooperativa  entre docentes de diferentes idades, gêneros,  formação, religiões , personalidades, atuando   nos sistemas público e particular de ensino.
Em 2010, primeiro ano do Projeto Currículo Global para a Sustentabilidade,  dedicado à  identificação das escolas e alinhamento conceitual dos participantes, as 5 unidades  que o representam no Brasil  já conseguiram  comunicar, á maioria dos professores e estudantes , a importância de se incluir no  currículo  a dimensão   global, por meio de conceitos  como  direitos humanos, justiça social, diversidade, cultura de paz/resolução de conflitos, sustentabilidade e outros.
Os professores Daniela Lastoria de Godói  e Paula Rabello  ( Bandeirantes), Eduardo Villalpando,  ( EMEF Guilherme de Almeida) , Isa Camargo de Mello, (EE Julia M. Pantoja) , Sueli Nonato  (EE Luiza Hidaka) e Sérgio Ferreira , (Teia/Politeia  ),que representaram suas escolas em Leeds, compartilharam suas aprendizagens   e mostraram as imagens das escolas britânicas visitadas.  Contando com a  liderança dos diretores , das equipes “Currículo Global”  e dos coordenadores do Projeto em cada escola ( Cristiana Assumpção no Bandeirantes, Eduardo Villalpando e Denise Pires  na Guilherme de Almeida, Rosmeire Giacomelli na Julia Pantoja, Lucia Hirata na Luiza Hidaka e Georgya Correa na Teia/Politeia), a  devolutiva   conseguiu  beneficiar   todos os professores das escolas.
Em  várias delas ,  como no Bandeirantes , os  “Viajantes  de  Leeds” possibilitaram aos colegas  vivenciar dinâmicas experimentadas no Reino Unido  . Em uma  , a Guilherme de Almeida  , todos os alunos participaram da elaboração de pôsteres sobre conceitos implícitos na dimensão  global,  que foram expostos no pátio e visitados por toda a comunidade escolar, inclusive os pais. Os estudantes criaram ainda um vídeo onde  refletem sobre a importância de se preservar os espaços da escola, como os banheiros.  Em outra , a Julia Pantoja ,  os estudantes  foram envolvidos na criação de um "logo" da unidade para o projeto e os professores trabalharam de forma interdisciplinar ,  com uma culminância  envolvendo atividades de conscientização da comunidade , pelos alunos, sobre comportamentos sustentáveis.. A escola foi convidada a  expor no metrô trabalhos dos alunos sobre "casas sustentáveis". Em outra ainda, a  Luiza Hidaka, a Feira de Ciências foi toda voltada a ressaltar a dimensão da  Sustentabilidade. com alunos apresentando os seus trabalhos sobre o tema .  No Bandeirantes , Sustentabilidade e Cidadania  estão presentes nas aulas  das mais diferentes matérias, de Ciências e   Educação Física  a  Português, onde até  a leitura do Frankestein de Mary Shelley pode servir para discutir  conceitos  como Diversidade e  Valores/Percepções . Na Politeia, todas as crianças,independente de idade e presença de deficiências físicas ou mentais,  criaram e apresentaram juntas uma peça que incluia  muitas dos conceitos Globais - O Mágico de Oz- e  realizaram vídeo onde a questão do consumismo era criticada e   causas da situação dos  moradores de rua  eram afloradas.

Conexões internacionais começam a  acontecer , com correspondência entre  escolas brasileiras e Republica Checa ,Benin,  Reino Unido.  

4- Cooperação Brasil-África rumo á superação do preconceito e da discriminação:
No momento em que o Brasil emerge como uma das grandes potencias no cenário mundial,  é urgente que aprendamos  a valorizar as diferenças, a conviver com elas e transformar em mudanças positivas  os conflitos que elas provocam . Uma aprendizagem  que precisa ser aplicada na escola, na cidade, no país e no mundo , gerando sustentabilidade
O  Brasil  é  exemplo  de convivência com a diversidade   e de intolerância á diversidade.  E um lado, temos a Parada Gay , uma das maiores e mais bonitas do mundo. De outro, sucedem-se  abomináveis manifestações  de homofobia.   De um lado, somos capazes de um   sincretismo religioso  que  concilia o inconciliável, unindo santos da religião católica , baseada na divisão  severa entre o bem e o mal e orixás da  religião africana  onde  bem e mal são faces de uma mesma moeda  . De outro, o racismo  se manifesta na diferença de condições de vida, salários e esperança ao nascer entre cidadãos de pele branca e de pele escura , mostra que  a diferença, no Brasil, ainda inferioriza.
A visita de Estudos ao Benin  representará para os professores brasileiros, um banho de Africanidade. O  pequeno país (menor que Portugal)  é hoje  um modelo de  democracia  entre as nações africanas . Nela convivem pacificamente cristãos, islâmicos e praticantes do Vodu, que em  iorubá  significa Espírito, Deus-  religião africana , matriz do Candomblé e da Umbanda brasileiros ,   distorcida  e vilipendiada por  Hollywood.   O Benin    foi governado por poderosos soberanos autóctones, superou  galhardamente o regime colonial francês, viveu  duas décadas de um governo  autoritário  marxista  e é  herdeiro de tradições culturais, religiosas  e artísticas milenares .  Berço de escritores como  Jean Pliya, e Bhely-Quénum, o Benin, ao receber seus filhos e filhas e além mar ,  irá contribuir para fortalecer o orgulho e consciência negros  nas escolas e comunidades brasileiras .
A Visita de Estudos , da qual também participarão os docentes da Austria, Reino Unido e República Checa,  será precedida pela interação entre as  escolas brasileiras e as  beninesas , localizadas em Porto Novo e Cotonou . São  unidades de ensino  também muito diversas : Colégio Católico Notre Dame de Lourdes , fundado por missionários franceses, particular, dedicado á  formação intelectual e espiritual de seus alunos;  Colégio de Ensino Geral de Gbegamey –publico,  criado em 1964, de renome nacional , centro de exames e concursos; Complexo Escolar  Leopold Senghor  ,publico; Complexo Escolar Protestante , particular, criado pela Igreja protestante em 1951;Liceu Toffa   (publico) .só de meninas, funcionando  desde 1972 .
Ao mesmo tempo, as escolas brasileiras  entrarão em contato com   os recursos da   Casa do Benin , em Salvador .Esse equipamento público , inaugurado  em 1988,  abriga uma rica coleção de objetos e obras de arte da região do Golfo do Benin, de onde veio a maioria dos negros que povoaram o Recôncavo Baiano. A maior parte do acervo foi colecionada pelo antropólogo  fotógrafo  e cidadão planetário  Pierre Verger ,em suas andanças pelo continente africano . Uma professora   da EMEF Guilherme de Almeida  aproveitou as férias  na Bahia  para visitar a Casa e, consultar sua biblioteca especializada em África e Cultura Afro-Brasileira , recolhendo  materiais e contatos para  todos os  colegas  do Projeto Currículo Global  para a Sustentabilidade.   
Conclusão
Os educadores  envolvidos no  projeto Curriculo Global para a Sustentabilidade  no Brasil estão construindo ferramentas para que  as escolas e comunidades possibilitem às crianças e adolescentes    compreender como injustiças do passado afetam as políticas contemporâneas locais e globais,  identificar  interconexões entre as esferas sociais, econômicas e ambientais, perceber que  as pessoas, lugares, economias e ambientes estão todos intrinsecamente relacionados, e que escolhas e eventos locais  tem repercussão em escala global .  Esses educadores  convidam ,os estudantes,  por meio de suas  situações de  aprendizagem cuidadosamente planejadas ,   a desafiar o racismo e outras formas de discriminação, desigualdade e injustiça, percebendo que somos todos parte de uma só humanidade,  que  a força do Axé nos une  e  que o sofrimento  ou a felicidade de  um,  impacta  a  comunidade inteira.
Trata-se de um projeto que conta com recursos financeiros muito limitados. Os profissionais da Educação nele engajados  estão sendo movidos por valores e princípios alternativos-  altruístas , solidários  . Também  pelo prazer gratuito de cooperar  e  aprender com o outro, com o diferente. Eles remam a favor do futuro  , rumo às praias da democracia planetária que  nossos bisnetos talvez alcancem. 
Muitos parceiros já se juntaram a nós. Desde o início do processo, o CECIP vem contando com a generosa e gratuita consultoria de especialistas como Angela Antunes e Erick Morris, do Instituto Paulo Freire, Helena Singer, do Instituto Politeia, Monica Mumme ,de seus próprios quadros - além do apoio de Vilma Guimarães, da Fundação Roberto Marinho. Você também pode  remar conosco.  Afinal, cada um de nós é o que é por aquilo que todos somos :  Ubuntu. .

(1)- CECIP- Coordenadora Pedagógica e Coordenadora Administrativa  do Projeto Currículo Global para a Sustentabilidade no Brasil
(2) Diretor Executivo do CECIP; Professora de Português- EMEF Guilherme de Almeida  e Professor de Artes. EE Julia M. Pantoja , membros da equipe Brasileira do projeto Currículo Global para a Sustentabilidade.

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